quinta-feira, 16 de abril de 2009

Rapidinha

Moço belo, esconde o rosto por uns instantes e deixa eu te ver.
Depois sorri, porque és belo para mim. E aí, me beije, de vagar e ainda sorrindo. Que o nosso amor é breve, embora para sempre.

domingo, 12 de abril de 2009

Engano-alívio

Menino tolo. Chora hoje, só hoje. Grita, chora. Porque há tanto tempo você não chora, menino. Chora para as paredes, os espelhos frios que não te consolam. Chora, menino, menininho, que o chão morto te dá colo. Chora, criança, corre. E grita até a sua voz falhar. Grita, grita, grita, que o ralo da pia vai te escutar. E a louça suja vai se compadecer. Menino, bebê, esperneia. Contra a feiúra do mundo, contra o Deus, o Papai-do-CéU que te abandonou. Pequeno, permita-se. Aproveita os três segundos de testemunhas cegas e surdas. E chora. Depois, finja ser feliz. Que é o que te resta, menino tolo.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Só um detalhe

Às vezes a gente se depara com aquelas frases que, de tão bem
compostas, fazem a leitura - por vezes tediosa - dos jornais valer à
pena. "Nicolas Sarcozy, marido de Carla Bruni, aliás presidente da
França", escreve Vinícius Torres Freire em
artigo publicado hoje na
Folha
. O texto todo é ótimo e vale uma olhadinha.

PS: Estou descomputadorizado. Daí o silêncio. Mas na semana que vem será
lançado o Programa de Aceleração da Blogagem.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Das Consequências do Meu Amor por Ele

Fecho os olhos e tento encontrá-lo. Navego essa linha, essa linha que sai do meu peito e me guia diretamente para o peito dEle, regulando nossas respirações, nossos suspiros. E, sufocado, tento nadar e pego na mão dEle, que me puxa e me censura. Eu reclamo e a gente se beija. E meus olhos, fechados desde o início, traçam Suas curvas, Seu rosto, Suas linhas, Seus pelos. E Seu corpo é meu espaço de línguas, lábios e saliva, deslizando, escorrendo, navegando, nadando, transcendendo. E eu O toco com boca, dedos, meu sexo ereto encontrando Seu sexo ereto, O toco com eu te amos e babys e quero ficar para sempre com você e lágrimas de preocupação e amor, e amor, e amor, é amor. E quando Ele ceder, quando sua boca gritar e seu corpo arquear, quando Ele me abraçar forte e depois, ainda depois, quando cair e Sua respiração, lentamente, se regularizar, eu só colocarei minha cabeça no Seu ombro e saltarei de clichê em clichê, como uma criança que salta de pedra em pedra, pé ante pé, nesse espaço que é de desejo e amor misturados, unidos, fundidos em eu te amos, babys, quero estar para sempre com você. E eu quero estar para sempre com Ele, como estaria agora, depois do Seu gozo, segurando a Sua mão, planejando dias e anos e duas vidas circulares, dois anéis entrecruzados, inseparáveis. Nesse espaço, onde há nenhum espaço para outros eles, outros eus. Onde ambos somos surdos, cegos e mudos. Nesse lugar onde eu sou só dEle, e, nesse exclusivismo intenso, apaixonado, amante, recíproco, Ele é só meu. E quando Ele disser que me ama, eu vou acreditar, porque Ele é só meu. Ele é só meu. Ele, Ele, Ele, Ele, Ele, Ele, Ele, baby, amor, Ele é só meu. Para sempre.

(10/07/2006)

segunda-feira, 2 de março de 2009

How Can I Go Home With Nothing to Say

Quando entrou em casa, o rosto parecia mais marcado. Colocou na mesa os três livros que carregava, depois voltou para trancar a porta. Seus olhos varreram a sala. Sem querer ver, a viu
no sofá, silêncio expectante no rosto. Respirou fundo. Foi até lá. Envolveu os ombros dela com o braço direito. Na televisão, o telejornal. Deve ser o mesmo de ontem, ele pensou. Ela o encarou. Não disse nada, mas pediu. Ele não falou nada, mas respondeu. Lhe beijou o rosto. Ela olhou para a frente. Então. Nada. Ela desligou a TV. Ele se levantou, olhou para os livros na mesa, foi até a cozinha, pegou as chaves do carro, lhe entregou, os dois saíram, ele voltou , trancou a porta, esperaram sete minutos pelo elevador, cruzaram a garagem, ela sentou-se a direção e deu a partida. Um quilômetro e meio dali, ele desceu. Lembrou-se dos três livros. Lhe farão boa companhia, ele pensou. Bateu a porta com cuidado e desapareceu. Ela esperou em frente ao hotel por quatro minutos e meio antes de dar a partida no carro.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Oscar Viralata

Um dia digerindo Slumdog Millionaire (Quem quer ser um Milionário, no péssimo título em português) não foi o suficiente para gostar do filme. Tampouco para entender completamente a paixão da crítica e da Academia pelo longa. Já fui ao cinema avisado de que era inferior ao medíocre. Mas, claro, os oito Oscars e a coleção de prêmios da temporada recebidos pelo longa me deram esperança.

Saí do filme meio com raiva, meio confuso. Raiva porque achei uma perda de tempo. Confuso porque não consegui evitar a sensação de que algo me escapara. Não é possível, pensei, esse filme tem algum brilhantismo que me escorre entre os dedos. Mas os admiradores foram incapazes de explicar o que é. As críticas que li, tampouco.

Slumdog é apenas um romance, com um pano de fundo meio Cidade de Deus para maquiar uma história de amor francamente patética. O filme não se sustenta nem como romance, nem como o gênero filmefavela criado por Fernando Meireles e nem como um conto de fadas moderno. Para ser um romance decente, falta plausibilidade, drama, sutileza. Para ser um filmefavela bem sucedido, o diretor não deveria ter abandonado, na metade do filme, o retrato -- bastante interessante -- da vida nas favelas de Mumbai.

Toda a implausibilidade, os exageros, o drama, os clichês poderiam ser perdoados se a história fosse, de fato, um conto de fadas . Mas não é. O filme não tem a graça, a delicadeza, a magia dos contos de fadas. O que Slumdog faz é misturar toda sorte de elementos necessários a um filme de sessão da tarde. Não me incomodam os clichês, quando bem usados. Mas Slumdog não o faz nem de forma minimamente poética -- como em Moulin Rouge --, nem brinca com eles -- como o divertido Kung Fu Panda. Em vez disso, o diretor Danny Boyle leva os clichês a sério (e, surpreendentemente, a crítica também)!

Argumentar que Slumdog é válido como um retrato da pobreza na Índia é tão pueril que não merece comentário. Mesmo porque isso não atesta a qualidade de nenhum filme.

Nem tudo é ruim, claro. A montagem é muito bacana, e a forma de contar a história do protagonista é um tanto inovadora. Gosto também da solução encontrada por Boyle para descrever o envelhecimento dos personagens (embora isso seja, aparentemente, um recurso já usado em filmes de Bollywood). A primeira metade do filme é boa, enquanto a vida de uma criança pobre em Mumbai ainda é parte relevante da história. Mas, da metade em diante, quando tudo se transforma num romance digno de Glória Perez, a coisa desanda irremediavelmente.

Óbvio que parte da minha indignação deve-se ao imenso reconhecimento que este longa (medíocre) recebeu. Em circunstâncias normais, seria só um filme esquecível. Agora, é evidência de como o Oscar tem se tornado chato. O bom mocismo da Academia, a necessidade de se dizer uma premiação "diversa" deixa a coisa toda previsível. Depois dos negros, gays e chicanos, foi a vez da India ser lembrada pela academia. Não dou três anos para o "far east" ou África serem as bolas da vez.

Por hora, tento entender o que esse filme tem de tão especial. Há uma lista de coisas, do ponto de vista ideológico, que me incomodam em Slumdog. Mas o mais incompreensível é como a história de um garoto pobre, mantido afastado de seu amor de infância por um vilão digno de história da Disney, e que, por sorte -- ou pior, porque "estava escrito" -- consegue dar certo na vida, pode ser levada a sério.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

e,

Quando minha boca fala palavras involuntárias
e você deslisa por entre meus dedos
e aquele espelho atrás da cama ainda reflete outro casal
tudo então está vazio

Onde estou eu, então?
O meu passado que se fechou em três portas trancadas.
Onde está você, que responde ao meu te amo.
Eu quis correr todos os dias,
para me fortalecer e ser mais, e ser maior

e ser homem.
Mas você se foi.
E você está, e eu minto, e eu firo, e eu machuco um pouco mais.
E eu sorriu, sabendo que o nosso amor é para sempre
porra nenhuma.

Toda a porra de todo um final de semana acumulada sobre o lençol
sangrado até o fim.
Mas você ainda está aqui, meu amor.
E eu te amo, só que não quero que seja assim, agora.
Eu quero morrer, quero morrer de alegria, de tristeza, de vomitar.

Eu vomito palavras e palavras, e versos e linhas brancas.
Vomito frustrações sobre você. Neuroses sobre você. Angústias sobre
você.
Então, meu amor, me segura quando eu cair dos vinte e nove metros.

Vinte e nove linhas necessárias que hoje eu te escrevi.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

200 anos do nascimento de Charles Darwin

Meu irmão diz-- coitadinho -- que nós, humanos, não temos mais instintos. Gostaria de saber o que explica, então, a vontade irresistível de tantas mulheres de ter filhos, quando chegam aos vinte e poucos, trinta anos. A afirmação do meu irmão é apenas uma repetição mais radical da postura de alguns -- eu diria a maioria dos -- "cientistas" sociais. Uma postura que ainda nega, 150 anos depois de seu surgimento, uma das ideias mais brilhantes já pensadas por um cérebro humano.
Há 200 anos, nascia um dos maiores -- senão o maior -- gênios da humanidade. Charles Darwin. Minha admiração por Darwin é quase ilimitada. Foi um grande cientista, pensador, humanista e -- vejam vocês! -- um cara legal. Impressiona que ele ainda seja tão mal interpretado e pouco estudado. Suas idéias tiveram impacto que vai muito além da biologia. Elas deveriam servir como base para a compreensão do comportamento humano. Darwin nos destronou -- de forma irrefutável -- do papel de protagonistas da natureza. Enquanto não entendermos que somos animais como todos os outros, não conseguiremos explicar fundamentalmente nossos sentimentos, atitudes e instintos.
Pretendo abordar, em posts futuros, assuntos como o Darwinismo social e os argumentos religiosos, um tanto patéticos, contra a evolução. Nem entendo o que o termo "darwinista radical" -- frequentemente usado para descrever o biólogo inglês Richard Dawkins -- supostamente significa, mas talvez eu também fosse batizado com esse rótulo. O fato é que vejo, sim, na seleção natural um argumento difícil de refutar a favor da inexistência do Deus hebreu.
Por fim, meus parabéns a GloboNews pela excelente série Darwin 200 Anos. Conheço a dificuldade de explicar a leigos ideias científicas de forma compreensível, mas sem ser simplista. E a série está fazendo um bom trabalho.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Aquele Moço

Ele disse que queria um final feliz. E pediu, pediu para que fossem só nós, só eles, só ambos. Mas a porta já estava aberta para outros eles, E o beijo tardio eram de tantas bocas, e tantos olhares com o dele já haviam se cruzado. Aquele corpo já fora compartilhado. Então, meu caro, por que você não se cala? E esquece, e pinta, e estrutura aquela valsa, e mergulha os teus dedos em outros cabelos. E espera sangrar. E prova o sangue. Para ver se sabe ao dele.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Retorno e coisa e tal.

Resolvi voltar a escrever. Foram cinco meses na Califórnia e tantos dias sozinho. O bastante para que a inspiração acumulada atualize este blog.
Sem chances de eu falar sobre a viagem. Mas alguns factóides interessantes: no meu retorno, fui organizar a vida e transferir arquivos do desktop antigo para o laptop novo. Nesse processo, como era de se esperar, esbarrei com textos escritos sei lá eu quando. Decidi lê-los, com a curiosidade discreta de quem pergunta "tudo bem?" a um mero conhecido. Mas foi uma experiência absolutamente Alice no País das Maravilhas. Me senti visitando um mundo que conhecia levemente, como se tivesse estado nele em sonhos. E pelo vidro do sonho, eu me observei há quatro, cinco anos. É tão esquisito sentir isso: autopiedade e afeição por si mesmo misturadas. Quem era aquele Lucas? Ele virou eu. E eu virarei outro cara, daqui há dois, três anos? Muito estranho sentir-se um estranho de si mesmo.
Abaixo, um desses textinhos escritos nesse meu tempo de outro (até que eu acho bonitinho).

Quatro pés quebrados


Estive em um espaço onde as palavras ecoam sem fazer som.
E os passos espaçados não têm mais chão.
Foi que respirei três vezes, olhei pra trás, recusei sua mão, quebrei o espelho, saltei sete números, hipnotizei a faca, mutilei as unhas, dancei a vírgula, devorei a face, depilei seus olhos, lavei sua língua e cuspi na sua voz.
Aí, sorri.