quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Oscar Viralata

Um dia digerindo Slumdog Millionaire (Quem quer ser um Milionário, no péssimo título em português) não foi o suficiente para gostar do filme. Tampouco para entender completamente a paixão da crítica e da Academia pelo longa. Já fui ao cinema avisado de que era inferior ao medíocre. Mas, claro, os oito Oscars e a coleção de prêmios da temporada recebidos pelo longa me deram esperança.

Saí do filme meio com raiva, meio confuso. Raiva porque achei uma perda de tempo. Confuso porque não consegui evitar a sensação de que algo me escapara. Não é possível, pensei, esse filme tem algum brilhantismo que me escorre entre os dedos. Mas os admiradores foram incapazes de explicar o que é. As críticas que li, tampouco.

Slumdog é apenas um romance, com um pano de fundo meio Cidade de Deus para maquiar uma história de amor francamente patética. O filme não se sustenta nem como romance, nem como o gênero filmefavela criado por Fernando Meireles e nem como um conto de fadas moderno. Para ser um romance decente, falta plausibilidade, drama, sutileza. Para ser um filmefavela bem sucedido, o diretor não deveria ter abandonado, na metade do filme, o retrato -- bastante interessante -- da vida nas favelas de Mumbai.

Toda a implausibilidade, os exageros, o drama, os clichês poderiam ser perdoados se a história fosse, de fato, um conto de fadas . Mas não é. O filme não tem a graça, a delicadeza, a magia dos contos de fadas. O que Slumdog faz é misturar toda sorte de elementos necessários a um filme de sessão da tarde. Não me incomodam os clichês, quando bem usados. Mas Slumdog não o faz nem de forma minimamente poética -- como em Moulin Rouge --, nem brinca com eles -- como o divertido Kung Fu Panda. Em vez disso, o diretor Danny Boyle leva os clichês a sério (e, surpreendentemente, a crítica também)!

Argumentar que Slumdog é válido como um retrato da pobreza na Índia é tão pueril que não merece comentário. Mesmo porque isso não atesta a qualidade de nenhum filme.

Nem tudo é ruim, claro. A montagem é muito bacana, e a forma de contar a história do protagonista é um tanto inovadora. Gosto também da solução encontrada por Boyle para descrever o envelhecimento dos personagens (embora isso seja, aparentemente, um recurso já usado em filmes de Bollywood). A primeira metade do filme é boa, enquanto a vida de uma criança pobre em Mumbai ainda é parte relevante da história. Mas, da metade em diante, quando tudo se transforma num romance digno de Glória Perez, a coisa desanda irremediavelmente.

Óbvio que parte da minha indignação deve-se ao imenso reconhecimento que este longa (medíocre) recebeu. Em circunstâncias normais, seria só um filme esquecível. Agora, é evidência de como o Oscar tem se tornado chato. O bom mocismo da Academia, a necessidade de se dizer uma premiação "diversa" deixa a coisa toda previsível. Depois dos negros, gays e chicanos, foi a vez da India ser lembrada pela academia. Não dou três anos para o "far east" ou África serem as bolas da vez.

Por hora, tento entender o que esse filme tem de tão especial. Há uma lista de coisas, do ponto de vista ideológico, que me incomodam em Slumdog. Mas o mais incompreensível é como a história de um garoto pobre, mantido afastado de seu amor de infância por um vilão digno de história da Disney, e que, por sorte -- ou pior, porque "estava escrito" -- consegue dar certo na vida, pode ser levada a sério.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

e,

Quando minha boca fala palavras involuntárias
e você deslisa por entre meus dedos
e aquele espelho atrás da cama ainda reflete outro casal
tudo então está vazio

Onde estou eu, então?
O meu passado que se fechou em três portas trancadas.
Onde está você, que responde ao meu te amo.
Eu quis correr todos os dias,
para me fortalecer e ser mais, e ser maior

e ser homem.
Mas você se foi.
E você está, e eu minto, e eu firo, e eu machuco um pouco mais.
E eu sorriu, sabendo que o nosso amor é para sempre
porra nenhuma.

Toda a porra de todo um final de semana acumulada sobre o lençol
sangrado até o fim.
Mas você ainda está aqui, meu amor.
E eu te amo, só que não quero que seja assim, agora.
Eu quero morrer, quero morrer de alegria, de tristeza, de vomitar.

Eu vomito palavras e palavras, e versos e linhas brancas.
Vomito frustrações sobre você. Neuroses sobre você. Angústias sobre
você.
Então, meu amor, me segura quando eu cair dos vinte e nove metros.

Vinte e nove linhas necessárias que hoje eu te escrevi.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

200 anos do nascimento de Charles Darwin

Meu irmão diz-- coitadinho -- que nós, humanos, não temos mais instintos. Gostaria de saber o que explica, então, a vontade irresistível de tantas mulheres de ter filhos, quando chegam aos vinte e poucos, trinta anos. A afirmação do meu irmão é apenas uma repetição mais radical da postura de alguns -- eu diria a maioria dos -- "cientistas" sociais. Uma postura que ainda nega, 150 anos depois de seu surgimento, uma das ideias mais brilhantes já pensadas por um cérebro humano.
Há 200 anos, nascia um dos maiores -- senão o maior -- gênios da humanidade. Charles Darwin. Minha admiração por Darwin é quase ilimitada. Foi um grande cientista, pensador, humanista e -- vejam vocês! -- um cara legal. Impressiona que ele ainda seja tão mal interpretado e pouco estudado. Suas idéias tiveram impacto que vai muito além da biologia. Elas deveriam servir como base para a compreensão do comportamento humano. Darwin nos destronou -- de forma irrefutável -- do papel de protagonistas da natureza. Enquanto não entendermos que somos animais como todos os outros, não conseguiremos explicar fundamentalmente nossos sentimentos, atitudes e instintos.
Pretendo abordar, em posts futuros, assuntos como o Darwinismo social e os argumentos religiosos, um tanto patéticos, contra a evolução. Nem entendo o que o termo "darwinista radical" -- frequentemente usado para descrever o biólogo inglês Richard Dawkins -- supostamente significa, mas talvez eu também fosse batizado com esse rótulo. O fato é que vejo, sim, na seleção natural um argumento difícil de refutar a favor da inexistência do Deus hebreu.
Por fim, meus parabéns a GloboNews pela excelente série Darwin 200 Anos. Conheço a dificuldade de explicar a leigos ideias científicas de forma compreensível, mas sem ser simplista. E a série está fazendo um bom trabalho.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Aquele Moço

Ele disse que queria um final feliz. E pediu, pediu para que fossem só nós, só eles, só ambos. Mas a porta já estava aberta para outros eles, E o beijo tardio eram de tantas bocas, e tantos olhares com o dele já haviam se cruzado. Aquele corpo já fora compartilhado. Então, meu caro, por que você não se cala? E esquece, e pinta, e estrutura aquela valsa, e mergulha os teus dedos em outros cabelos. E espera sangrar. E prova o sangue. Para ver se sabe ao dele.